Há nas baías das grandes cidades uma ausência aflita
brilha nas ruas dos arranha-céus reflectidas nas águas tristes
e todos os navios têm o teu rosto cosmopolita
o teu rosto imprevisto chegado do país onde existes e não existes.
Em Hong Kong S. Francisco Amesterdão Nova Iorque
há uma espécie de nostalgia uma viragem uma aragem
melancolia é o teu nome talvez porque
estás quase para chegar e como sempre de passagem.
Tão de passagem que ninguém pode encontrar-te
senão por um acaso ao virar da esquina um olhar
tu és a alma das metrópoles estás em nenhures e toda a parte
e todas as cidades têm o teu rosto de mulher.
E há em todos os centros uma branca aflição
um roçagar de mármore que me toca
um pavor do vazio ó beijo da solidão
esta noite tem o sabor da tua boca.
É então que te sofro: tu és parte de mim que se me escapa
vais nos navios cintilas nos arranha-céus
o teu país não cabe em nenhum mapa
tu és do mundo e estás em mim como um adeus.
As luzes brilham na baía e sinto a grande urgência
nos terraços da noite onde o acaso se esconde
Eu sou eu mesmo a tua ausência
e o teu lugar é onde não há onde.
Nos corredores do vento onde perpassa o grande impulso
nos ângulos de gelo que pairam sobre a insónia
o coração das metrópoles bate no meu pulso
e todos os exílios começam em Babilónia.
Chegam os grandes frios e as lâminas do olvido
e todos os espelhos estão vazios
no livro do silêncio há um deus desconhecido
e eu pergunto por ti outra vez sentado sobre os rios.
M. Alegre
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