quinta-feira, 3 de março de 2011

jean genet

"Não se aborda uma obra de arte como se aborda uma pessoa, um ser vivo ou outro fenómeno natural. Poema, quadro, estátua, exigem exame com um número de qualidades preciso.

Nenhum rosto vivo facilmente se revela, e contudo basta um pequeno esforço para descobrir-lhe o significado.

O importante é isolá-lo. Só quando o meu olhar o destaca de tudo em redor, só quando o meu olhar impede esse rosto de se confundir com o resto do mundo evadindo-se numa infinitude de significações cada vez mais vagas, obtenho a necessária solidão pela qual o meu olhar o recorta do mundo.

Nós que olhamos para a compreendermos e sermos por ela tocados.

O que interessa é o que a tela deve representar. Aquilo que eu pretendo decifrar nessa solidão é simultaneamente a imagem sobre a tela e o objecto real por ela representado. O primeiro passo é isolar o quadro do seu significado de objecto e então a imagem sobre a tela estabelece ligações com a minha experiência do espaço, com o meu conhecimento da solidão dos objectos, dos seres e dos acontecimentos.

Quem nunca ficou maravilhado com tal solidão nunca conhecerá a beleza da pintura. Se disser o contrário, mente.

Na origem da beleza está unicamente a ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda."


O Estúdio de Alberto Giacometti


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