....'...Toco na tua boca. Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo se desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da minha mão que te desenha.
Olhas-me de perto, cada vez mais de perto, (...e então brincamos aos ciclopes!), os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se! E os ciclopes olham-se respirando confundidos! ....as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios...a dor é doce! E afogamo-nos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego....e essa morte instantânea é bela....'...
Cortázar
Sem comentários:
Enviar um comentário