"Por vezes, consoante a forma como a víssemos, disse ele, essa questão tinha pouca importância, pois as estrelas que vemos de noite vivem no reino da aparência. São aparência, da mesma forma que os sonhos são aparência. (...) Na realidade, quando falamos de estrelas, é em sentido figurado. Isso chama-se metáfora. Uma pessoa diz: é uma estrela de cinema. Está a falar com uma metáfora. Uma pessoa diz: o céu está coberto de estrelas. Mais metáforas. Se derem um murro nos queixos a uma pessoa e a deixarem KO, diz-se que ele viu estrelas. As metáforas são a nossa maneira de nos perdermos nas aparências ou de ficarmos imóveis no mar das aparências. Nesse sentido, uma metáfora é como um salva-vidas. E não devemos esquecer que há salva-vidas que flutuam e salva-vidas que vão a pique ao fundo. Convém nunca esquecer isso. A verdade é que só há uma estrela e essa estrela não é nenhuma aparência nem uma metáfora nem surge de nenhum sonho ou pesadelo. Têmo-la lá fora. É o Sol. Essa é, para nossa desgraça, a única estrela. (...) uma estrela enlouquecida na imensidão do espaço."
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