Imaginação.
É essa parte dominadora do homem, essa senhora de erro e falsidade, e tanto velhaca por não sê-lo sempre, pois seria regra infalível de verdade se o fosse infalível da mentira.(...)
Não falo dos loucos, falo dos mais sábios, e é entre eles que a imaginação tem o grande dom de persuadir os homens. Por mais que a razão proteste, não consegue valorizar as coisas.
Essa soberba potência inimiga da razão, que se compraz em controlá-la e dominá-la, para mostrar quanto pode em todas as coisas, estabeleceu no homem uma segunda natureza. (...)
Suspende os sentidos, fá-los sentir.
Tem seus loucos e seus sábios.
E nada nos despeita mais do que ver que enche os seus hóspedes de uma satisfação bem mais plena e completa que a razão. Os hábeis por imaginação satisfazem bem mais a si próprios do que os prudentes podem razoavelmente fazê-lo. Olham as pessoas com autoridade, disputam com ousadia e confiança - os outros com temor e desconfiança - e essa satisfação visível dá-lhes geralmente vantagem na opinião dos ouvintes. (...)
Quem dispensa a reputação, quem dá o respeito e a veneração às pessoas, às obras, às leis, aos poderosos, senão essa faculdade imaginativa?
Todas as riquezas da terra são insuficientes sem o seu consentimento. (...)
O maior filósofo do mundo, andando sobre uma tábua suficientemente larga, se houver abaixo um precipício, será dominado pela imaginação, ainda que a razão o convença da sua segurança. Muitos não poderiam sequer pensar nisso sem empalidecer de suor. (...)
O tom de voz impressiona os mais sábios e modifica o carácter de um discurso e de um poema.
A afeição ou o ódio mudam a face da justiça. (...seu gesto arrojado fá-lo parecer melhor aos juízes enganados por essa aparência.) (...) Pois a razão foi obrigada a ceder, e a mais sábia toma conta dos seus princípios, aqueles que a imaginação dos homens temerariamente introduziu em cada lugar.
Pascal
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