quinta-feira, 3 de março de 2011

Problemas Embrulhados (parte I)

Nós sabemos pouco, mas que nos devemos agarrar ao que é difícil é uma certeza que não nos abandonará; é bom ser sozinho pois a solidão é difícil; se algo é difícil, maior a razão para o fazermos.

Amar é bom, também, sendo o amor difícil. Pois um ser humano amar outro é talvez a nossa tarefa mais difícil, a última, a última prova ou teste, a obra para a qual todas as outras não passam de ensaios. Por esta razão os jovens, que são principiantes em tudo, não podem conhecer o amor: têm de o aprender. Com todo o seu ser, com todas as suas forças, unidos à bvolta do seu coração sozinho, tímido e acelerado, têm de aprender a amar.

O amor não é no início algo que precise de fusão, de entrga, de união com outro, é um forte indício do amadurecimento do indivíduo, que se torna algo dentro de si, que se torna mundo, que se torna mundo para si em função do outro, é uma grande exigência sobre o outro, algo que faz dele a escolha e o chama para muitas coisas.

Mas os jovens erram com tanta frequência e com tanta gravidade nisto: que eles, de cuja natureza faz parte a impaciência, atiram-se uns aos outros, quando o amor deles se apropria, espalham-se tal como são, com toda a sua desorganização e confusão... E depois? O que deve fazer a vida a este monte de existências meias baralhadas que eles chamam comunhão e que de bom grado eles chamariam felicidade, e se possível o seu futuro? (Talvez o nome correcto seja botes salva vidas.)

São questões, questões íntimas entre um ser humano e outro, que em qualquer caso exigem uma resposta nova, especial e pessoal; mas como podem eles, que já se misturaram e que não se distinguem uns dos outros e, por conseguinte já nada possuem de si próprios, serem capazes de encontrar uma saída na profundidade da sua solidão já feita em pedaços?

Quem olhar para isto de forma séria descobre que nem para a morte, nem para o amor, existe qualquer explicação, qualquer solução, qualquer pista que ainda possa ser explicada; e para estes dois problemas que trazemos embrulhados e entregamos sem os abrir, não é possível descobrir uma regra geral baseada no consenso.

Mas se, no entanto, aguentarmos e tomarmos este amor como um fardo e uma aprendizagem, em vez de nos perdermos num papel frívolo e superficial, atrás do qual as pessoas se têm escondido desde os primórdios da sua existência - então um pequeno progresso e uma esperança serão talvez perceptíveis.


Rainer Maria Rilke

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