Escrevo-te para te dizer que estimo bem que tu te fodas.
Quem consegue amar em duplicado não ama ninguém. Quem consegue dividir o amor não merece que me multiplique em nome dele.
Ou se ama tudo ou é uma merda de nada.
Dizes que há que perceber o amor para perceber o que amas. E eu não
percebo. O que se ama, lê com atenção, não se percebe – é essa,
provavelmente, a grande dificuldade de entendimento entre nós. Tu queres que eu perceba o que só se sente e eu quero que tu sintas o que só consegues perceber.
Quando se ama com a cabeça não se ama coisa nenhuma.
Há uma outra mulher no teu caminho, uma outra mulher a resgatar os teus
braços. Pedes que compreenda, pedes que entenda que há que ser
altruísta para pode armar.
E eu estimo bem que tu te fodas.
Não sei para que existe a palavra egoísmo se já existe a palavra amor.
Amar é singular. Singular. Lê bem: singular. Único. Só um. Só aquele.
Só o que ocupa tudo e não deixa nem um fiozinho de fora, nem uma
migalhinha à vista. Fiz-te singular e fizeste-me plural. É isso o que
nos separa. É uma questão de gramática, de matemática, até. Mas até o
amor merece que todas as contas sejam feitas. E no final o resultado de
eu + tu é eu sem nada. Eu dolorosamente e ainda assim orgulhosamente sem
nada.
Antes mulher solitária do que totó solidária.
Não te
partilho com ninguém. Não me partilho com ninguém. Quando sou, sou por
inteiro, quando sou, sou eu inteira no que me vem inteiro. E tantas
vezes já te disse nunca e depois voltaste e eu voltei. Não me considero
fraca por ainda acreditar que voltas, que voltarás mais uma vez, com
esse olhar que me despe do mundo e me dá a vida. E quando voltares vais
dizer «vem, que hás só tu». E tudo o que peço, tudo o que desde sempre
te peço, é isso: que haja só eu. Que seja só eu. «Vem, hás só tu»,
dirias, e todo o meu corpo se abriria para te deixar entrar, e o abraço
aconteceria e todos os sofrimentos fariam sentido.
Amar é saber que até os sofrimentos podem fazer sentido.
Não voltaste. Ainda não voltaste. E parece que desta vez foi de vez.
Estarás vendido entre os outros braços das outras mulheres que te
aceitam em pedaços. E eu aqui estou, em pedaços mas inteira, à espera de
que percebas que isto que nos une é um privilégio tão grande que tem de
exigir exclusividade. Se não voltares, não te preocupes comigo. Vou
continuar a mesma apaixonada de sempre no lugar de sempre, à espera do
homem de sempre. Até que chegue, lentamente, alguém que me ensine a
desprogramar-te de mim, a diluir tudo o que tenho de ti por dentro do
que me sustém. Até lá serei tua e ninguém terá sequer o direito de me
olhar em pleno. É essa a minha decisão final. Mas depois da minha
decisão final vem a tua. A decisão é tua. Sempre tua.
Ou vens já, ou recuso-te para sempre.
P.S.: Estimo bem que tu te fodas.
E amo-te.
Pedro Chagas Freitas.
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