quarta-feira, 2 de novembro de 2011

a resposta de Proust à iminência de um cataclismo !

(...)
Julgo que se recaísse sobre nós uma ameaça de morte, como referiu, a vida nos pareceria subitamente maravilhosa. Imagine quantos projectos, viagens, ligações amorosas, estudos, ela - a nossa vida - esconde de nós, tornados invisíveis pela nossa preguiça que, certa da existência de um futuro, os adia incessantemente.
Porém, se tudo isto estivesse na iminência de se tornar impossível para sempre, quão maravilhoso voltaria a parecer! (Ah! se o cataclismo não ocorrer desta vez, não sentiremos falta de visitar as novas galerias do Louvre, de nos atirarmos aos pés da menina X, de fazer uma viagem à Índia...)
O cataclismo não acontece e nós nada fazemos porque estamos de novo no centro da vida normal, onde a negligência adormece o desejo. E, porém, não deveríamos precisar do cataclismo para amarmos a vida hoje. Deveria ser suficiente pensar que somos humanos e que a morte pode chegar esta noite.


Marcel Proust
L'intransigeant, verão de 1922

Sem comentários:

Enviar um comentário