Palavra dita.
A porta batida e a palavra dita não têm retorno possível. Está batida a porta, está dita a palavra. Não há como voltar atrás. É claro que é possível abrir de novo a porta - mas isso já não é voltar atrás na porta batida; é, apenas, reabrir a porta.
Mas ela bateu.
A imagem da porta a bater, o barulho da porta a bater, já não pode ser apagado. Está lá dentro, dentro da memória. Existiu e vai continuar a existir - nada o apagará.
E a palavra dita. Como regressar de uma palavra dita? "Desculpa." Desculpa é um bom começo. Pode minorar os estragos, fazer com que seja possível sobreviver por entre os cacos que a palavra dita provocou. Mas, tal como a porta batida, a palavra dita aconteceu. Existiu. Foi dita e ouvida. Foi dita e sentida. Foi dita e guardada. Pode estar num espaço contíguo ao que faz os passos, um atrás do outro, acontecerem. Mas pode também - é mesmo o máximo que cada um pode fazer para aguentar sobre a palavra dita - ser empurrada para um armazém esconso: para os calabouços do que guardamos em nós.
Porta batida.
Palavra dita.
In Sexus Veritas
Sem comentários:
Enviar um comentário